domingo, 12 de fevereiro de 2012

Bola da Vez – Lua

Esboço da lua por Galileu


Quando eu era bolsista no observatório astronômico da universidade de meu estado foi agendada uma palestra sobre astronomia para crianças realmente pequenas, acredito que em idade pré-escolar ainda. O professor que estava ministrando essa secção, um jovem brilhante que possuía pós-doutorado em Oxford, tinha acabado de explicar o mais trivial sobre astronomia. A palestra versava sobre movimentos orbitais, estrelas e planetas; em fim, coisas que estavam ao alcance de pessoas tão jovens... Mas foi justamente quando o palestrante encerrou a oratória e abriu o tempo para as perguntas que uma garotinha que usava laçinhos rosa em seu cabelo perguntou para que servia a Lua. Naquele momento notei alguma perplexidade no semblante do astrônomo; ele sorriu e meio sem jeito falou que ela regia as marés e, sem muito mais o que dizer, que os namorados também podiam olhar para ela quando estavam juntos. Afinal, sejamos justos, como se explicar nesse assunto para uma pessoa que nada poderia saber sobre força de coesão da matéria e gravitação? Esse pensamento me levou a imaginar que fantástico caminho aquela garotinha iniciava ali, caso ela cultivasse essa propriedade de se deixar provocar pelas perguntas mais elementares. Hoje, anos passados deste acontecimento, acredito que talvez a resposta seja o próprio motor daquela pergunta. Para mim, agora a astronomia serve para formularmos as perguntas mais simples a fim de encontrar as respostas mais elaboradas...         



Penso que dentre todos os astros observáveis sem equipamento aquele que causa maior espanto para um observador iniciante é a lua. Essa é um alvo bem acessível para as lentes menores, tem uma geografia interessante e possui um palco de eventos próprio. Por esses motivos elegi esse como objetivo de nossa primeira saída de campo, assim como proposta justa o suficiente para determiná-la como o primeiro objeto celeste a ser investigado mais detalhadamente. Desde muito antes de a humanidade dar os seus primeiros passos para fora do Vale Rift, essa sentinela celeste já nos fazia companhia, deixando mais clara a escuridão da noite, marcando a passagem do tempo e quem sabe até instigando a imaginação incipiente do primata que mais tarde viria a se tronar senhor de todo o planeta. Assim tornado esse astro uma testemunha silenciosa de toda a fabulosa aventura humana pela terra. Desta feita dediquemos algumas linhas para essa velha amiga que também já foi chamada em outros tempos por Selene, Cíntia, Ártemis entre outros nomes, porem quase sempre no feminino... então vamos a conhecer um pouco melhor essa palida dama?

-Diâmetro: 3.476 km
-Distância Terra-Lua: entre 356.000 km e 406.700 km
-Distância média Terra-Lua (centro a centro): 384.000 km
-Magnitude Maxima (lua cheia): -12,6
-Período de rotação (dia lunar): 27d 7h 43min
-Repetição das fases: 29d 12h 44min
-Massa: 0,012 * Terra
-Densidade (relativa a água): 3,34
-Gravidade: 0,1654 G
-Temperatura na superfície: 100°C (dia), – 150°C (noite)
-Composição: Silício, Magnésio, Ferro, Cálcio, Alumínio e Água. Também existem rastros de metais radioativos como o Urânio e Tório, assim como abunda em Irídio trazido por material vindo do espaço.
-Atmosfera: Desprezível, entretanto se encontra traços de Radônio decorrente do decaimento radioativo.  
 
 
Ao contrário do que se pode pensar, a lua cheia não é a fase mais própria para observação deste astro. Isso é devido ao fato de nessa fase a luminosidade vida do sol incidir mais perpendicular ao seu solo. Tal coisa diminui a sombra do relevo lunar minimizando seu contraste. Já quando existe proximidade das fases intermediarias(três dias antes e depois dos quartos) podemos observar melhor o que se chama de limbo lunar, que é aquela linha que divide a face clara da face escura. É justo para essa linha que deves apontar seu telescópio, pois é onde as sombras estão com maior projeção facilitando a distinção de seu relevo. Tal linha também é conhecida por terminador, que leva próximo de 14 dias e 18 horas para varrer toda a superfície lunar visível. De posse desse dado podemos chegar a duas conclusões: que um dia lunar possui por volta de 29,5 dias terrestres e que esse terminador se move a uma velocidade de 10 km/h no equador lunar fazendo com que a área de observação mude muito sutilmente sua definição ao longo da observação. Nas outras fases se aconselha usarmos um tipo de filtro solar, que é uma lente neutra e mais escura que se acopla nas oculares, para evitar o ofuscamento dos mares e das raias de detritos dos impactos das grandes crateras.
Mas afinal, o que se observar na lua? Pela sorte de na terra termos uma lua singular em nosso sistema, muito maior em proporção que qualquer outra encontrada em qualquer outro planeta, e pela relativa proximidade, existem uma porção de detalhes que podemos, com alguma atenção e cuidado, encontrarmos. Em sua maioria são mares, crateras e cordilheiras. Fiz uma lista de minha geografia lunar predileta, fica como sugestão para sua próxima observação.  
Dos mares:
Os mares são planícies cobertas por acumulo de uma assustadora crosta de poeira. São bem fáceis de se distinguir do demais relevo pois são as áreas mais escuras e que tem menos crateras. Eles podem nos contar um pouco da história lunar, pois a estratigrafia lunar pode nos mostrar os traços dos fortes bombardeios da Era Pré-Nectariana, as evidências de grandes impactos e vulcanismo da Era Imbriana até as raias das crateras mai jovens da Era Copernicana. Desses vale a pena dar uma olhada nos seguintes relevos.
-Mar da Tranqüilidade.(local onde o homem deu o primeiro passo fora do planeta)
-Mar Imbrium.
-Mar Nectaris.
-Mar Insularum.
-Sinus Iridum.
-Oceano Procellarum.
Das Cordilheiras:
As cordilheira ficam bem visíveis a medida que o treminador passa por elas. Sendo que algumas estão nas periferias dos mares e outros isolados em meio a mares, baías e crateras  Comumente são resultado do vulcanismo lunar, mas também existem aquelas que surgiram como reação a eventos de impactos catastróficos ou mesmo por tectonismo endogênio.
- Monte Piton.
- Monte Pico.
- Montes Teneriffe.
- Montes Caucasus.
- Montes Alpes.
- Montes e Vale Alpino.(não fica próximo dos montes Alpes, mas sim entre as crateras Arquimedes e Copernico)
- Montes Wolf.
- Montes Rumker.
- Montes Arquimedes.

Das Crateras:
Essas são a primeira coisa que nos sobe a mente ao imaginarmos a paisagem lunar, portanto nosso tour não poderia não contemplar algumas das mais notórias. Existe muita coisa a se falar sobre esse tópico e também ele nos pode passar muita informação. Quando pensamos em crateras logo pensamos em impactos enormes causados por objetos vindos do espaço que vitimam um astro quase sem atmosfera... bom, nem sempre é assim. Algumas crateras também são formadas por processos de vulcanismo, o que denota um passado geológico bastante ativo para essa nossa companheira espacial. Alem de uma morfologia distinta e bem definida essas últimas não são distribuídas ao acaso mas sim junto as falhas e não atingem diâmetros muito elevados. Sendo que as crateras de impacto variam tanto em lócus como em tamanho que podem atingir de impressionantes mais de 1000 km de diâmetro(podendo ser observada a olho nu da terra) até as freqüentes e assustadoras crateras microscópicas encontradas nos grãos de areia lunar. É justo esse tamanho que nos dá idéia da datação da superfície lunar, pois as regiões mais jovens possuem crateras pequenas enquanto as áreas mais velhas são povoadas por crateras enormes. Crateras de impacto também possuem raias de material lançado, o que indica a direção e o tempo do impacto. Basicamente esse tipo de cratera se divide pela magnitude do evento, sendo as que têm diâmetro inferior a 15 km as simples e as maiores as complexas.








Enfim, nesse campo opções de alvo de observação não nos faltam, entretanto existem algumas que são mais fácies de se localizar. Assim como guardam uma morfologia mais intrigante.
-Platão
-Aristóteles
-Cassini
-Aristillus
-Arquimedes
-Kepler
-Copernico
-Timocharis
-Hercules
-Picard
-Teophilus
-Arzachel
-Tycho
-Clavius(não só pela notoriedade dada na obra 2001, mas também por ser um ponto várias vezes atingido)
-Gassendi
Uma boa idéia antes de se fazer a observação da lua é fazer um rápido esboço de sua principal geografia apontado os locais de interesse e pontos de referencia próximos. Para tal passo um mapa lunar. Também aproveito para deixar a indicação de mais um software livre. Ele será bastante útil para sua observação pois possui um Baco de Dados que contém várias informações sobre a maioria do relevo lunar, inclusive o material mínimo de magnificação para se observar a formação.  













sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Metade do Telescópio.




O estadista Estadunidense Henry Kissinger uma vez falou que: “...a falta de alternativas clarifica maravilhosamente a mente...”, demagogias Norte-Americanas a parte, tais palavras encontram eco nesse último post. Felizmente alternativas não faltam quando falamos de oculares. Entretanto, para compreendermos nossas escolhas, devemos estar aparte de uma porção de pormenores que tento evidenciar aqui.   

Como vimos no post passado, o aumento em um telescópio depende da escolha das oculares, e talvez esse seja o componente mais relevante de seu telescópio. A correta eleição deste equipamento é fundamental para determinarmos o que vamos querer observar. Mais uma vez lembrando o que já falei anteriormente que quanto maior o aumento, geralmente, menor a qualidade da imagem; isso acontece em parte porque quando ampliamos algo também ampliamos toda a interferência da atmosfera junto... De maneira que grandes aumentos devem ser guardados para noites de céu espetaculares. Alem do que magnificações elevadas não permitem a observação de objetos de luminosidade difusa como nebulosas e cometas...

Tais alternativas demandam que tenhamos a nossa disposição uma gama variada de oculares e lentes... Por isso é aconselhável que tenhamos pelo menos três opções de aumento, sendo que usemos a fraca para os aglomerados, a média para aglomerados estrelares e planetas e guardemos a forte para noites de condições fabulosas. Esse aumento é relativo a limitação imposta pelo espelho de seu refletor, logo se você tens uma luneta de 40mm 80x já é um aumento quase excessivo, entretanto caso seja um dos privilegiados que possuem um espelho de 300mm esse fator de magnificação é realmente muito baixo. Segue uma tabela que leva em consideração o tamanho de seu espelho e a combinação melhor dimensionada própria para ele.

Espelho em mm
Magnificação Fraca
Magnificação Média
Magnificação Forte
Próprio para Observar:
Nebulosas e Aglomerados
Planetas e Lua
Estrelas Duplas
50
20x
60x
100x
60
24x
72x
120x
75
30x
91x
152x
80
32x
96x
160x
100
40x
120x
200x
150
60x
180x
300x
200
80x
240x
400x
250
100x
300x
500x
300
120x
360x
600x


Entretanto, não guarde grandes expectativas para estrelas duplas com qualquer espelho inferior a 100mm. Tais aberturas separam somente estralas um arco de grau de separação bastante elevado...

Já havia falado de um método prático para se determinar o aumento de uma ocular através do dado de afastamento focal dela. Contudo, sabendo que toda á memória é falha, não custa retomarmos essa técnica agora... Lembra-se de que falei que, a muito grosso modo, bastava dividir o afastamento focal do espelho principal do secundário pelo afastamento da ocular? Então:


X = Dist. Focal Tel/Dist. Focal Ocular


No post passado falei que não poderíamos alterar algumas medidas que seriam determinadas pelo projeto do telescópio. A distância focal entre os espelhos primário e secundário é uma delas, entretanto podemos mudar a distancia focal da ocular provocando o mesmo efeito de ampliação. O jeito de se fazer isso é usar uma barlow. Comumente esse dispositivo é classificado também como uma ocular, entretanto para mim ele é mais uma propriamente uma lente usada em conjunto com a ocular. Bom ao usarmos esse equipamento devemos ter em mente que sempre que ganhamos em aumento perdemos em luminosidade, portanto ele não deve ser usado para visualizar objetos difusos, entretanto são bem úteis para obesevação da lua e planetas.       


Devemos ter em mente que esses componentes são vitais para uma boa observação, alem do que existem vários tipos de configurações de lentes. Comumente escuto falar tenho o mesmo telescópio e as mesmas oculares que você, como eu não consigo visualizar as mesmas coisas que você vê no seu? A resposta mais freqüente é que provavelmente o tipo de ocular seja diferente... Aqui fica uma dica, não economize na escolha das oculares! Esse é um erro bastante comum. Lembre-se do que eu já falei anteriormente, lentes de qualidade são muito mais caras que espelhos! Por causa disso geralmente as oculares que acompanham os kits são de péssima qualidade para qualquer tipo de visualização...


Toda ocular honesta vem com uma etiqueta com uma sigla e um número. O número é referente a distância focal da lente, já a sigla é o tipo de desings das lentes. Para identificá-las segue uma tabela com os principais tipos disponíveis no mercado, assim como um diagrama e poucas palavras sobre cada desing:


H
Huygens
Ra ou R
Ramsde
K ou AR ou MA
Kellner
RKE ou RK
Kellner Modificada
Or
Ortoscópica
Er
Erfle
P ou Pl
Plossl


 
-Huygens

 
Esse é o mais obsoleto tipo de desing de ocular que é formado por um par de lentes plano-convexas. Elas atendem telescópios mais “lentos”, f/10 até f/15. Em distâncias focais menores que essas são realmente um osso para se roer... Apresentam todos os tipos de aberrações, cromática, curvaturas de campo, aberrações esféricas e grande falta de nitidez na imagem gerada. Meu conselho é substituí-las o quanto antes...

-Ramsde

 
Pode ser encontrada também com o alias de Positiva. Também é um desing bastante antiquado. São bem parecidas com as Huygens, a verdade o que se fez foi só inverter uma das lentes de seu interior. Isso atenua a aberração esférica, contudo todas as outras ainda estão presentes e por vezes mais ampliadas... Também é prudente se manter longe de oculares desse tipo!

-Kellner



Essas vêm também com os nomes de Ramsde Acromática ou Acromática Modificada, por isso da possibilidade das outras siglas. Na tentativa de corrigir a aberração cromática do modelo anterior se adaptou um par de lentes, sendo uma delas biconvexa e a outra plana côncava na lente mais próxima do olho. Tal coisa realmente resolveu o problema aberração cromática, alem de atenuar as outras tendências apresentas antes. São boas opções para observações no geral, e não costumam ser excessivamente caras. Entretanto quando não são bem manufaturadas é comum duplicarem as imagens de objetos luminosos, por isso é aconselhável se comprar essas oculares com um afastamento considerável.     


-Kellner Modificada


O que se fez nessa ocular foi simplesmente inverter a posição do jogo de lentes de uma Kellner substituindo as lentes planas por uma bicôncava e outra biconvexa. Tal coisa melhorou significativamente a correção de quase todo o tipo de aberração gerada. São uma excelente opção para qualquer tipo de aparato óptico.


-Ortoscópica


Existe uma verdadeira infinidade de variações deste tipo de ocular, pois foram bastante populares no século passado devido ao seu desempenho. Basicamente todas são compostas por uma lente plano-convexa próxima ao olho, seguida por uma biconvexa, uma bicôncava então novamente outra bicôncava. Tal formatação torna inexistentes aberrações cromática e esférica, entretanto também quando mal dimensionadas produzem fantasmas nas imagens geradas assim como um baixo índice de curvatura de campo. Pelo desenho contemplar quatro lentes a transmissão luminosa é mais intensa, formado imagens de maior contraste. Devido ao custo-benefício relativamente baixo, ela é bem aceita entre muitos profissionais de astronomia e também indicada como boa opção para uso geral. Mas, em especial, por sua excelente nitidez, em observações planetárias.  

-Erfle


São de uso mais comum em binóculos navais e em lentes fotográfica de grande ocular. Essa é uma peça difícil de fabricar, pois existe um jogo de até seis lentes dentro delas. Muito raras de se encontrar para telescópios porque apresentam fortes distorções nas extremidades, inviabilizando a observação de planetas e da Lua. Entretanto, nas magnificações mais baixas são muito boas, gerando boas imagens do espaço profundo...      

-Plossl

 
Essa é uma ocular bastante popular hoje, principalmente entre pessoas que se dedicam a astronomia amadora. Ela é feita com a combinação de duas lentes plano-côncava seguidas por uma biconvexa contrapostas, talvez pelo tipo de imagem resultante desse conjunto também são chamadas de assimétricas. É uma ocular de aplicação geral, confiável que apresenta um bom custo benefício. Não apresenta nenhuma solução muito sofisticada, entretanto também nenhum defeito grave, sendo assim uma boa opção para se ter como um coringa na caixa de oculares...

 
-Barlow

Como falei antes serve para “aumentar” a distância focal das oculares. São encontrados desde 1,7x até 4x. Se você possui um telescópio curto pode achar útil possuir alguns deles para combinar com suas oculares.



Antes de terminar esse post gostaria de deixar claro que quando falamos de lentes existem alguns cuidados que devemos tomar com os fabricantes. É muito fácil se produzir uma lente com aberração, portanto antes comprar qualquer um desses materiais, procure saber quem as fabricou... Se ela for feita pela Zeiss é claro que será muito melhor e, conseqüentemente, bem mais cara! :)   

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Escolhendo as Lentes...



Quando tive minha primeira motivação em iniciar esse blog foi justamente para falar sobre telescópios amadores e suas possibilidades. Mês passado, ao passar por uma loja não especializada um vendedor, bem intencionado possivelmente, insistia em me falar que um telescópio que um refletor dobsoniano de 76mm possuía um aumento de 225x. Bem sabia eu que tal espelho jamais produziria imagens de qualidade de nitidez mínima em qualquer aumento superior 152x, além do que, tal magnificação para astronomia amadora não era assim tão relevante. Sai bastante contradito daquela loja quando tentei explicar para aquele vendedor que na verdade aquilo não importava, e o que eu realmente queria saber era a distancia focal e quais oculares acompanhavam o kit. Coisa que, por sinal, ele não sabia informar... Imaginava que aquela pessoa provavelmente era um bom vendedor e que ele procurou se informar sobre os produtos que comercializava, porém provavelmente nunca tenha chegado até ele informação para que lhe desse suporte para filtra quais dados eram importantes. Pois bem, como falei antes, essa era a motivação inicial do blog, um lugar para pessoas que poderiam encontrar os primeiros passos na astronomia sem ter um bacharelado em ciência. Contudo, ao iniciar, me deparei com outro problema... Afinal, como explicar os tipos de montagem sem que se tenha o mínimo de familiaridade com uma metodologia de localização; ou distancia focal e diâmetro de abertura sem compreender medidas e magnitudes? Enfim, agora que acredito que já tenha escrito o mínimo sobre tais assuntos assim podemos seguir adiante, em busca de horizontes mais amplos e de um espaço mais profundo...

Telescópio de Galileu

O vídeo do post passado mostra Galileu adaptando um simples brinquedo popular em um instrumento que mais tarde se tronaria um dos ícones da ciência moderna. Não posso imaginar o que homens como Galileu e Newton sentiram ao se depararem com a beleza da silenciosa dança dos planetas, contudo lhes asseguro que as imagens da primeira vez que vi os anéis de saturno ou a de uma veloz lua eclipsando uma faixa de Júpiter são algumas das mais preciosas lembranças que guardo em minha memória. Isso foi no ano de 1999, logo que consegui assegurar uma vaga de bolsista no departamento de astrofísica de minha universidade, contudo, acredito que esse caminho entre as estrelas pode ser trilhado por qualquer pessoa que tenha a disposição em embrenhar seus passos nessa senda.


Luneta Gautier do observatório da UFGRS, onde dei meus primeiros passos na astronomia, com objetiva de 19 cm. Img. JC. 



Mas afinal, o que são telescópios e para que eles servem? Bom, em linhas gerais telescópios são aparatos que servem para duas coisas: captar a maior quantidade de luz de determinado segundo de arco celeste e ampliá-la. A primeira vista isso não diz muito, contudo com o arranjo entre essas duas variáveis podemos dimensionar exatamente o que pretendemos observar. Acredito que a distinção entre essas duas características é fundamental para elegermos o material que escolhemos para nós. Então, agora, escrevo pensando nos cuidados que devemos tomar ao comprar o seu primeiro telescópio. Ao contrario da cresça popular, telescópios de grande razão de aumento não são os mais indicados para a astronomia de espaço profundo, essa característica é determinada pela sua capacidade de captação de luz. Ou seja, quanto melhor a razão luminosa melhor será o telescópio, o que é regido pelo tamanho do espelho do telescópio. Esse é um dos motivos que astrônomos quando falam sobre telescópios a primeira informação passada sempre é o tamanho do espelho e não a razão de aumento... Caso você possuir uma luneta de grande razão de aumento, não a jogue fora, elas ainda, no geral, são melhores para observar planetas e a lua que telescópios refletores...
Mas afinal, como podemos estimar a razão de aumento e a capacidade de coletar luz de um telescópio? Para isso existe uma fórmula simples, basta calcularmos a área máxima da dilatação de nossa pupila e compararmos com a área do espelho do telescópio. Tempos atrás falei que cada um de nós temos uma acuidade visual diferente, e que isso depende de vários fatores biológicos, um deles é justamente esse tamanho de pupila. Na média a dilatação máxima da pupila humana no escuro fica na casa dos 6mm de diâmetro, dado isso fica fácil!

-Sendo a área de uma circunferência obtida por πR^2, logo o número de luminosidade de um telescópio refletor de espelho 76mm é:
Olho: π3^2 = 28,27mm^2, Espelho:  π38^2 = 4.536,46mm^2.
Razão:       4.536,46mm^2/28,27mm^2 = 160, 46
Podemos afirmar que com o auxilio desse instrumento captaremos 160,46 vezes mais luz que com nossos olhos. O que explica o porquê enxergamos mais estrelas com um telescópio e não estrelas maiores... Lembra-se de quando conversamos sobre distâncias astronômicas? Pois é, uma estrela está realmente muito longe, é por isso que de pouco adianta aumentá-la 1000 vezes; e caso ainda tenha em mente o que falei sobre as condições de observação, todas aquelas interferências atmosféricas também serão multiplicadas por 1000.
Outra característica que distingue os telescópios é o tipo como é captada e formada a imagem através de seu jogo de espelhos e lentes. Basicamente existem três tipos de telescópios próprios para a astronomia amadora. Basicamente todos eles têm um ponto em comum, captar a maior quantidade de luz e convergi-la em um ponto a fim de formar uma imagem. Eles os podem ser classificados como do tipo Refrator, Refletores ou como os fabulosos Cassegrain. Cada um deles guarda algumas particularidades, assim como são mais próprios para um determinado tipo de observação.
Sendo os primeiros melhores para a observação de objetos mais próximos. Talvez por esse motivo também são conhecidos pelo nome de lunetas. Geralmente tem um fator de aumento bastante elevado, o que comumente não é utilizado. São bem mais complexos em sua construção e o fato de usarem lentes ao invés de espelhos encarecem em muito sua elaboração. Comumente uma boa lente de cristal tem um custo em média sete vezes mais elevado que um espelho de mesma qualidade.
Acredito que o mais usual dos tipos de telescópios são os refletores também comumente chamados de Newtonianos. Eles apresentam ótimo custo benefício, são relativamente fácies de se encontrar no mercado, não são de manufatura complexa e por isso são também os mais simples de se montar em casa. Pelo fato de espelhos serem mais baratos que lentes, possuem aberturar focais maiores. Geralmente eles são mais curtos, o que denota menores aumentos, contudo como já vimos, isso é irrelevante para o espaço profundo. Eles possuem acromatismo perfeito, o que quer dizer que a imagem gerada preserva todos os comprimentos de onda da imagem original. São, no geral, bem mais portáteis devido suas menores dimensões reduzidas; acredite, se você tem um trambolho em casa, é lá que ele vai ficar... Contudo, também sofrem mais com a aberração térmica no seu espelho e também padecem devido à interferência por difração da aranha na captação de luz.
Já o último é uma junção das qualidades e defeitos dos dois anteriores. Na verdade, ele é um tipo de refletor, contudo, balanceando bem os benefícios de um bom refletor. Caso a variável custo não tenha peso na sua equação de qual telescópio comprar, um bom Cassegrain de 200mm é minha dica de compra...     



Para falarmos da segunda variável que entra nessa mediação, não poderíamos deixar de mencionar a ampliação, mas queria fazer um porem antes! Tenha sempre em mente que qualquer ampliação superior ao dobro do diâmetro em milímetros de seu espelho é impraticável. Ou seja, pode existir uma diferença assombrosa entre aumento possível e o recomendável! Tento evidenciar isso agora. Calcular a ampliação de um telescópio é uma tarefa bem simples, e também bastante recomendável ao escolhermos um. Para tanto precisamos estarmos a par de dois dados. O primeiro o diâmetro da lente ou do espelho e o segundo o ponto de foco do tubo(Distância Focal do Telescópio). A razão entre esses dois dados vai nos informar o “f” do telescópio. Ou seja:
f = Dist. Focal/Diâmetro da lente
Por exemplo, para um telescópio de 700mm de Dist. Focal e de espelho de 76mm temos:
f = 700mm/76mm, ou seja: f /9,2


Essa distância é fixada na hora do projeto do instrumento, logo imutável. Contudo, podemos mudar esse fator de ampliação alterando o tipo de ocular e lente barlow que usamos no focalizador do telescópio. Gostaria de abrir toda uma nova publicação sobre esse assunto, pois existem várias possibilidades e tipos de oculares, barlows e prismas que podemos extrair recursos! Contudo, por hora tenha em mente que guardando essa mesma razão entredistância focal e a ocular podemos estimar o aumento induzido pela ocular na imagem gerada no tubo. Sendo:

A = Dist. Focal/Afastamento da Ocular
Que ficaria para o nosso velho f/9,2 caso usássemos uma ocular de 25mm:
A = 700mm/25mm, logo A = 28 vezes de magnificação.   


As lentes Barlow vêm com um número de vezes especificadas de fábrica nelas. Por exemplo, caso usarmos uma Barlow de 3x nessa configuração calculada teremos o aumento de 84 vezes. Contudo, lembre-se que tal coisa é regida pela relação de imagem determinada por seu espelho. Para exemplificar imaginemos que usamos uma Barlow de 3x combinada com uma ocular de 4mm em nosso f/9,2 de 76mm de lente: Isso daria um aumento de 525 vezes. O que resultaria em uma imagem que não exibe mais que um borrão luminoso em sua ocular...   
Existe mais um cuidado a se reparar antes de comprar um telescópio. É o tipo de montagem. Isso pode parecer bobagem, entretanto, faz toda a diferença quando estiveres em observação. Portanto escolha bases que lhe parecerem mais robustas. Tenha em mente que quando usamos um telescópio estamos secionando não mais que segundos do arco celeste, qualquer trepidação torna a observação impraticável. Principalmente quando não temos prática em focar, acompanhar o movimento celeste e trocar oculares... Basicamente existem três tipos de montagem para telescópios amadores: são elas a Azimutal, a Equatorial e a Dodsoniana.
Enfim, a montagem Azimutal é a mais simples delas, pode ser de grande escolher uma delas vantagem caso você não tenha ainda prática em montar telescópios. Entretanto esse tipo de montagem exige movimento simultâneo em dois eixos para acompanhar o movimento da esfera celeste, o que além de ser incomodo para um iniciante, impossibilita a adaptação de mecanismos de relógio(servem para acompanhar automaticamente esse movimento) baratos.



 Já as Equatoriais são as que apresentam maiores benefícios ao observador. Após focado o movimento fica preso a somente um eixo de movimento o que possibilita que o mecanismo de relógio seja bem mais simples e barato. Entretanto como claras desvantagens é que sua instalação é relativamente complexa para uma pessoa sem experiência; alem de que comumente exigirem mudança de meridiano no meio de uma observação.



Por fim a Dobsoniana. Se você está pensando em fazer seu telescópio em casa esse é o tipo de montagem que deves seguir, pois podem ser facilmente reproduzido em uma marcenaria doméstica. São bastante estáveis, evitando as incomodas trepidações. Possuem uma instalação fácil e são facilmente adaptáveis a qualquer tipo de terreno. Entretanto não são assim tão portáteis, pois pesam muito mais que qualquer outra montagem. Além do que também não existem mecanismos de relógio baratos para esse tipo de montagem, pois também se movem em dois eixos para acompanhar o movimento celeste. O que no fundo faz esse tipo de montagem uma classe dentro das Azimutais.

Acredito que com isso você já saiba o que precisa saber para comprar seu primeiro telescópio. Lembro que sempre é bom investir em marcas mais conhecidas, Toya(e seus genéricos), GOS e Celestron são marcas conhecidas. Não os compre em lojas não especializada, ao menos que tenha certeza do que você está fazendo. As primeiras observações que pretendo publicar nesse bolg serão com feitas um refletor genérico Toya f/9,2 de 76mm antes de passar para um f/9,3 de 150mm . Caso acompanhes esse blog verás que se tem muito que se ver por aí mesmo com o menor deles...