segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Constelações - Um Grupo Relativamente Próximo.

(Imagem tirada do livro do Prof. Kepler.)

A mente humana trabalha com uma estranha propriedade, a completude pictórica! Quem já um dia estudou desenho sabe que nosso cérebro completa imagens a fim de se apropriar delas de maneira que essas repercutam em nosso universo pessoal. Exemplo disso é que em nossa infância, período que exercitamos mais intensamente nossa abstração sensorial para assimilarmos as experiências cotidianas um mundo ainda desconhecidos, comumente nos divertíamos ao observar uma nuvem que jurávamos ter a forma de um pato, outra que muito nos lembrava um cachorro ou um carro. Agora se em sua meninice você olhava para elas e pensava consigo: São nuvens Cumulus Humilis; estão na baixa atmosfera; fase presente na gênese da formação nebulosa; correntes advectivas em sua maioria; são um sinal de bom tempo! Provavelmente você tem algum problema... ;P Enfim, o que tudo isso tem a ver com as constelações mesmo? Acredito que as constelações nasçam dessa necessidade de se apropriar do abstrato e transformar em grupos classificáveis através das associações com objetos conhecidos. Contudo, nem todas as civilizações repartiram esses conjuntos da mesma forma.* Seria no mínimo bizarro imaginar que a civilização Asteca batizasse uma constelação de Centauro, dado que eles sequer conheciam cavalos muito menos tal mito. Isso também explica o curioso fato de nenhuma constelação zodiacal ter sido nominada de Pingüim... Esses astrônomos primordiais eram como as crianças observando as nuvens, que se apropriavam do desconhecido formando imagens mentais condizentes com seu repertório pessoal. Porem deve ficar bem claro que as estrelas que compõe esses grupos não estão próximas uma das outras! Como mostra a figura inicial desse post, isso é devido ao fato de não termos uma imagem de referencial de tamanho no espaço. Logo, tais grupos marcam zonas da esfera celeste e não propriamente agrupamentos de estrelas.
Mas afinal, qual dessas divisões da esfera celeste criadas pelos antigos devemos seguir? Segundo a UAI(União Astronômica Internacional) é mais indicado que usemos a simbologia ocidental que divide o espaço em 88 áreas. Cada uma dessas regida por uma constelação. Esse sistema de catalogação não nasceu de pronto. Ele teve início com Aristóteles, que determinou as 12(13)** constelações zodiacais, que são aquelas que são cruzadas pelo sol caminho aparente do sol. Mais tarde Ptolomeu engrossa essa lista chegando ao montante de 48 constelações distintas. Contudo esse número só atingiu o seu somatório final muito mais tarde em virtude das navegações em grandes latitudes, sendo que o matemático francês Nicolas Louis Lacaille foi o último a nominar uma constelação ocidental no ano cristão de 1763.
Agora que já sabemos de onde vem esse esforço de catalogação espacial poderíamos estar imaginado como isso nos pode ser útil. Essas divisões surgiram no mundo antigo afim de marcar a passagem do tempo durante o ciclo de um ano. Lembra-se que em posts passados lhe sugeri que procurasse por Órion no verão e por Escorpião no inverno? Fiz isso pelo motivo que essas constelações estão mais altas no zênite do hemisfério sul nestas épocas do ano. Assim como os navegadores antigos sabiam que determinadas estrelas pertencentes a essas constelações deveriam ter determinada altura, em determinada hora da noite. A variação desses graus tanto em azimute quanto em declividade lhes forneciam um método confiável de estimar sua posição. Hoje, usamos essas divisões para criar novas sub-divisões dentro das constelações, assim podendo dar nomes simples para cada estrela dentro delas. Essa nova classificação leva em conta a magnitude de cada estrela dentro de uma mesma constelação. A estrela mais brilhante é chamada de alfa, a com a segunda menor magnitude(lembre-se que quanto menor a magnitude maior é o brilho visível) recebe o nome de beta, para completar o nome acrescentamos o genitivo minúsculo grego da constelação. Trocando em miúdos, primeiro a letra grega relativa a magnitude, depois o nome em grego da constelação então a partícula “is”, na maioria dos casos... Por exemplo, a estrela mais brilhante da constelação de Órion será nominada de α orionis, a segunda de menor brilho de Draco levará o nome de β draconis e a de terceira estrela de menor magnitude de Scorpius será γ scorpii(assim com dois “is” no final mesmo...) e assim por diante. Também existem os nomes populares para as estrelas, contudo, dado que em uma noite escura enxergamos de 1000 a 1500 acredito que você não vai querer saber o nome de cada uma delas...
Agora é um bom momento para nos relembrar do alfabeto grego, não é mesmo? Segue:

α Alpha
β Beta
γ Gamma
δ Delta
ε Epsilon
ζ Zeta
η Eta
θ Theta
ι Iota
κ Kappa
λ Lambda
μ Mi
ν Ni
ξ XI
ο Omicron
π Pi
ρ Rho
σ Sigma
τ Tau
υ Upsilon
φ Phi
χ Chi
ψ Psi
ω Omega

Por hoje fica como sugestão de exercício que você encontre uma constelação que já domines a posição(qualquer uma delas vale, eu só não recomendo a constelação de Telescopium, não vai ter graça... :)) Identificada essa, teste sua acuidade visual nominado o máximo de estrelas que você distinguir.

 
*Naquele software que lhes passei, caso tenham tido algum tempo para examiná-lo mais minuciosamente, certamente notaram que existem duas barras de ferramentas que ficam ocultas. Uma na parte de baixo do monitor e outra na lateral esquerda. É justamente nessa que fica na lateral que nos interessa agora! Clique em “Céu e ver janela de opções” ou simplesmente pressione F4. Abrirá uma janela de configuração com várias orelhas de opção, última delas diz “Mitologia”. Ali você pode escolher o agrupamento nominal relativo a cada civilização. Sugiro que deixe mesmo em ocidental, contudo é bacana de ver como os outros povos antigos viam as estrelas.
 
**Existe alguma polêmica quanto a Ophiuchus. Certamente os gregos antigos conheciam constelação do serpentário, dado que essa fazia parte de sua mitologia. Hoje devido à precessão dos equinócios, ela também é cruzada pelo sol, contudo por um intervalo muito recente do que suas irmãs... o que me deixa na dúvida se ela pode ser realmente uma constelação Zodiacal. Contudo, categoricamente, não foi uma das que foi catalogada pelo filosofo grego.     

  

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